Existe uma tendência generalizada, sobretudo nos fotógrafos menos experientes, para estabelecer uma relação direta entre os atuais cartões de memória e os antigos rolos de fotografia, o que os leva muitas vezes a pensar que “se antigamente um rolo de 36 fotografias era melhor do que um de 24, parece claro que um cartão de 32 GB é muito melhor do que um cartão de 4 Gb, certo?” Não, errado.
Estabelecer uma relação entre os antigos rolos fotográficos, onde, depois de revelados e transformados em negativos, se guardavam as fotografias, com os atuais cartões de memória, onde agora se guardam os ficheiros informáticos das fotografias, é não compreender de todo a função que estes elementos ocupam nos modernos sistemas digitais e quais as caraterísticas principais que deveremos ter presentes na altura dos adquirir.
O cartão de memória é um dispositivo de armazenamento de dados baseado em tecnologia Flash, muito semelhantes à memória RAM usada nos computadores, onde, porém, os dados não se perdem na ausência de fornecimento de energia, por exemplo, quando a bateria acaba ou a câmera é desligada. Assim, os cartões de memória de uma câmera guardam uma relação mais direta com o disco rígido de um computador do que com o rolo fotográfico de uma câmera analógica. Nas câmeras digitais, a antiga película guarda relação com os modernos sensores, mas isso é tema para uma futura análise, por agora centremo-nos nos cartões de memória.
Vejamos então, ordenadas pela sua importância, quais as principais características dos cartões de memória:
– Tipo de cartão
– Velocidade de transferência / gravação de dados
– Espaço de armazenamento de dados
Tipos de cartões de memória
Cada marca ou modelo de câmera fotográfica usa um determinado tipo de cartão e essa é a primeira característica a ter em conta ao adquiri-los.
Nos inícios da fotografia digital, o número de tipos de cartões era quase equivalente ao número de marcas e modelos de câmeras fotográficas, pois cada marca optava quase sempre por um tipo de cartão exclusivo, por exemplo, as câmeras Sony usavam exclusivamente cartões do tipo Memory Stick, enquanto os cartões do tipo xD eram utilizados nas câmeras Fujifilm e Olympus.
Felizmente que tudo tendeu para a simplificação e hoje em dia, apesar de ainda não existir um standard, os cartões presentes no mercado resumem-se a uns poucos tipos, sendo os mais importantes o CompactFlash, o SD (Secure Digital) e o Memory Stick. Assim, ao comprar um novo cartão de memória para a sua câmera fotográfica terá de ter em conta o tipo de cartão que ela usa.
Velocidade de transferência / gravação de dados
Quando, numa loja, percorremos as inúmeras fileiras de cartões de memória em busca de um que se adeque à nossa câmera, deparamo-nos muitas vezes com a situação de existirem cartões do mesmo tipo, mas com capacidade de armazenamento inferior, que são mais caros do que outros que possuem uma capacidade substancialmente maior e perguntamo-nos, porquê? Porque é que um cartão com menor capacidade pode ser mais caro do que outro do mesmo tipo mas com uma capacidade maior? A resposta é simples: velocidade de transferência / gravação de dados, a principal característica de um cartão e aquilo que distingue dois cartões aparentemente iguais. Vejamos.
Quando carregamos no obturador a respetiva cortina abre-se e a luz penetra no interior da nossa câmera para assim formar uma imagem no suporte sensível. Nas câmeras que usam película, é aí que a imagem se forma e fica registada de uma forma permanente, dando origem ao chamado negativo; nas câmeras digitais, a imagem forma-se temporariamente no sensor eletrónico e os dados resultantes são enviados para o cartão de memória, onde ficam registados, libertando assim o sensor para que possa receber os dados da imagem seguinte.
Grosso modo, enquanto os dados não forem gravados no cartão de memória o sensor não fica apto a captar os dados da fotografia seguinte. Em consequência disso, a câmera bloqueia, não sendo possível tirar mais fotografias, enquanto o sensor não estiver outra vez disponível. Pela descrição deste processo se compreende facilmente a importância de possuir um cartão de memória com uma alta velocidade de transferência / gravação de dados: quanto mais alta for essa velocidade menor será o tempo de espera necessário entre a tomada de uma fotografia e outra. Claro, como tempo é dinheiro, os cartões mais rápidos são também os mais caros.
A classificação “Speed rating” expressa a velocidade de transferência máxima de leitura e escrita de dados para um cartão de memória, em megabytes por segundo. Por exemplo, 15MB/s ou 30MB/s são a velocidade máxima do cartão em escrita ou leitura de arquivos.
A classificação “Class ratings” expressa a velocidade mínima sustentada necessária para a gravação de dados a um ritmo mínimo, em megabytes por segundo. Por exemplo, os cartões Classe 2 são projetados para uma taxa de transferência mínima sustentada de 2 megabytes por segundo, enquanto os cartões Classe 10 são projetados para uma taxa de transferência mínima sustentada de 10 megabytes por segundo. A classificação “Speed rating” é muito importante para quem fotografa, enquanto a classificação “Class ratings” só importa a quem faz vídeo.
Espaço de armazenamento de dados
Quanto ao espaço de armazenamento de dados do cartão, quanto mais melhor, certo? Não, como já referi no início, essa não é a decisão mais acertada quando se trata de adquirir um novo cartão de memória.
Nos inícios da fotografia digital a capacidade de armazenamento de dados de um cartão era, como dizer, ridícula. Um cartão de memória de 512 Mb era considerado por essa altura como sendo de grande capacidade; na resolução máxima de uma câmera de então, era possível lá gravar à volta de 250 fotografias. É claro que as primeiras câmeras digitais tinham uma resolução máxima de meia dúzia de megapixéis, quando não menos.
Felizmente as coisas mudaram muito desde essa altura e hoje em dia as câmeras fotográficas têm dezenas de megapixéis de resolução e já é possível comprar cartões com 256 GB de capacidade, capazes de guardar mais de 10000 fotografias em alta resolução… 10000 fotografias!!! Mas isso é muita fotografia! Quantos anos são necessários para que a grande maioria daqueles que se dedicam à fotografia, façam este número de fotos? O exemplo é exagerado, mas serve para demonstrar que nesta coisa de comprar cartões de grande capacidade é bastante fácil cair no… exagero.
A capacidade adequada de um cartão de memória não deve ser medida em gigabytes, mas sim em fotografias, como nos velhos tempos da película, isto é, quando se compra um novo cartão de memória a sua capacidade deve ser aferida pelo número de fotografias que lá se consegue guardar e esse valor não deverá ser maior do que 250 a 300, considerando a resolução máxima da câmera. É preferível trocar de cartão de 250 em 250 fotografias, do que armazenar 10000 fotografias num só cartão que, azar dos azares, se avariou antes que as fotografias fossem descarregadas para o disco rígido de um computador.
Agora será mais simples escolher um bom cartão de memória. Boas fotografias!
Autor do texto: Vítor Cid
Fotografia de Bernard Rezende
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